
Pastoral Juvenil Vocacional
Congregação Nossa Senhora
da Caridade
do Bom Pastor



As Raízes da Congregação de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor
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Vamos percorrer rapidamente o caminho da história da Ordem de Nossa Senhora da Caridade, fundada por S. João Eudes no século XVII, e o da Congregação de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor, fundada por Santa Maria Eufrásia Pelletier no século XIX.
Primeiro, recuemos ao início do século XVII em França. Em 1601 nasce um homem chamado João Eudes, sacerdote por vocação e exímio pregador, profundamente apaixonado por Jesus Cristo. Com o coração transbordante de zelo pela salvação das pessoas, João Eudes afirmava que Jesus é o centro do mundo, que a obra das obras é formar Jesus em nós, e não se cansava de repetir: «Jesus é a verdadeira Luz!». Era um autêntico missionário da misericórdia que dedicou a sua vida a mostrar o grande coração de Deus, incarnado no Filho que se fez homem para acolher a miséria dos miseráveis.
Especialmente sensível ao sofrimento das jovens e das mulheres que clamavam por amparo e cura da dignidade perdida, em 1641, em Caen, funda, com o auxílio de mulheres de boa vontade, um refúgio, isto é, uma casa onde as jovens e mulheres necessitadas pudessem ser acolhidas e tratadas. Mais tarde, em 1656, com a aprovação da Santa Sé, nasce a Ordem de Nossa Senhora da Caridade do Refúgio, fazendo do refúgio de Caen o primeiro mosteiro da Ordem.
Neste caminho de longos anos, João Eudes encontrou muitos obstáculos, resistências e dificuldades, no seio da sociedade e da própria Igreja. Tanto assim foi que passaram mais de 30 anos até que se fundassem outros mosteiros. Esta expansão, apesar de muito lenta, foi possível graças à força do carisma recebido por Padre Eudes, à Contrarreforma Católica, ao empenho de algumas personalidades empreendedoras, e ao apoio de benfeitores.
Recordemos que o século XVI tinha visto nascer as Igrejas da Reforma, isto é, as Igrejas Protestantes. Por este motivo, em 1545, a Igreja Católica convoca o célebre Concílio de Trento e inicia um movimento conhecido como a Contrarreforma Católica. Este concílio definiu, entre outras coisas, as orientações da vida religiosa, declarando a clausura como parte integrante e obrigatória da vida religiosa; a exigência de um mínimo de 30 anos de idade e 8 de profissão religiosa para ser eleito superior ou superiora de uma comunidade; e a autoridade máxima do bispo diocesano sobre os mosteiros situados na respetiva diocese, sobretudo em relação às comunidades femininas.
Ora, pela metade do século XVII, época da primeira fundação em Caen, a sociedade francesa estava na fase da Reforma Católica, que procurava restaurar a ordem moral e prover os meios de a assegurar. Devido às ordens do concílio tridentino, os mosteiros de Nossa Senhora da Caridade observarão uma clausura estrita, serão materialmente autónomos entre si, embora unidos espiritualmente no carisma e na missão, e dependerão do bispo diocesano. Naquela época era esta a única forma canónica possível de vida religiosa.
Chegamos agora ao século XIX. No rescaldo da Revolução Francesa, em 1796, nasce Rosa Virgínia Pelletier, que veio a ser uma grande mulher inspirada por Deus e preocupada com o sofrimento humano, sobretudo o de rosto feminino.
Em 1714, tinha sido fundado na cidade de Tours um mosteiro da Ordem de Nossa Senhora da Caridade. Cem anos depois, a 20 de outubro de 1814, na festa do Coração de Jesus, enquanto a comunidade celebrava o centenário desta fundação, a jovem Rosa Virgínia entra como postulante e recebe o nome de Irmã Maria de Santa Eufrásia. Tendo professado em 1817, com 21 anos de idade, é eleita superiora em 1825, operando imediatamente várias inovações na comunidade de Tours.
Uma das suas primeiras decisões, em Agosto de 1825, foi fundar uma comunidade contemplativa. Esta decisão foi tomada na lógica do amor, como resposta a algumas jovens que lhes estavam confiadas e se sentiam chamadas à missão contemplativa. A vida contemplativa na congregação foi-se abrindo a novas realidades, hoje temos a dimensão apostólica e contemplativa que se completam.
Da sua liderança revitalizante nasce uma nova fundação, em Angers, que será oficialmente aberta a 31 de julho de 1829. Em 1831, a Madre Maria Eufrásia, terminado o seu mandato, deixa o mosteiro de Tours, para assumir a responsabilidade do mosteiro de Angers, fundado dois anos antes.
Entre 1831 e 1835, o mosteiro de Angers prospera muitíssimo sob a liderança da Madre Maria Eufrásia, a ponto de lhe chegarem vários pedidos de fundação de novos mosteiros.
Vejamos que já se passaram mais de 150 anos depois da morte de S. João Eudes, em 1680. A Revolução de 1789 abalou profundamente a França. O contexto social pós-revolucionário deixou milhares de crianças e jovens entregues a si próprios, e os pedidos de novas fundações para as socorrer sucedem-se. Que fazer? Como responder? Simultaneamente, multiplicam-se as vocações e os benfeitores comprometem-se a sustentar as novas comunidades. Surgiu então a ideia de uma outra organização: um Generalato, isto é, um fundo comum, unindo pessoas e potenciando recursos, de modo que os vários mosteiros pudessem sustentar-se e entreajudar-se mais facilmente, por consequência melhorando as respostas às necessidades.
Ora, lembremos que a Ordem fundada por S. João Eudes compreendia mosteiros autónomos e independentes subordinados ao bispo diocesano. Por este motivo, o pedido do Generalato, feito à Santa Sé pela Madre Maria Eufrásia em 1833, contou com o apoio de muitos e com a oposição de tantos outros. O período entre 1833 e 1835, ano em que o Generalato é aprovado pela Santa Sé, foi doloroso para ambas as partes: por um lado, as Irmãs de Nossa Senhora da Caridade mantiveram-se firmes contra o Generalato, considerando que era uma traição à intuição fundante de S. João Eudes; por outro, a Madre Maria Eufrásia também viveu uma enorme prova com esta situação, já que nunca desejou separar-se da Ordem de Nossa Senhora da Caridade. No entanto, quando deixa a Ordem para se tornar Superiora Geral da Congregação de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor, esta já prospera a nível internacional.
Nascida da aprovação do Generalato, a Madre Maria Eufrásia dá a maior prova do seu amor e da sua fidelidade a S. João Eudes ao dar continuidade ao seu carisma e à sua espiritualidade. Exercerá com inalterável firmeza e dinamismo o cargo de Superiora Geral durante 33 anos, até à sua morte em 1868. Ao longo da história, quantas tentativas de reconciliação!...
Continuando a nossa viagem, deparamo-nos com as inovações do Concílio Vaticano II (CVII) (1962-1965), que teve consequências para a Igreja universal em geral e para a vida religiosa em particular, a qual não podia escapar-se do sopro da renovação conciliar. O CVII determinou que a vida religiosa não deveria mais estar separada do mundo, mas ser nele sinal de Deus, motivo pelo qual as congregações religiosas de ação apostólica não tiveram permissão para continuar a observar a clausura, o que afetou tanto N.ª Sr.ª da Caridade quanto N.ª Sr.ª da Caridade do Bom Pastor.
Ao longo dos anos, a ação da Congregação de N.ª Sr.ª da Caridade do Bom Pastor pautou-se por escolhas importantes, das quais destacamos: o desenvolvimento do compromisso para a justiça e a paz, a importância dos grupos de leigos e parceiros associados, a evolução das estruturas de governo e da conceção de liderança congregacional, a adaptação das Constituições.
A partir da década de 1980, tanto as Irmãs de N.ª Sr.ª da Caridade quanto as Irmãs do Bom Pastor começam a testemunhar as forças da reconciliação e de união que atuam entre si, evocando a consciência de que as raízes comuns impulsionam as duas congregações a um futuro unificado. Assim, a 27 de julho de 2014, após 179 anos de separação, e passados 358 anos sobre a primeira fundação, a Ordem de N.ª Sr.ª da Caridade e a Congregação de N.ª Sr.ª da Caridade do Bom Pastor refundiram-se num só corpo apostólico de missionárias da misericórdia, com o nome comum de Congregação de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor.
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